Big Rock N' Roll - Pensou em rock, pensou Big Rock!: Sleaford Mods - Carioca Club

Foto: Roberio Lima

Sleaford Mods - Carioca Club - São Paulo/SP - 02 de novembro de 2024

Por: Roberio Lima

Fotos: Roberio Lima

Você, raríssimo leitor, conhece o Sleaford Mods? Já ouviu falar de Black Pantera? Não?! Pois trate de corrigir esse equívoco o quanto antes, afinal, são duas das atrações mais quentes do momento! E se ainda houver dúvidas sobre essa afirmação, é muito provável que você não esteve no Carioca Club no ultimo dia 02 de novembro. Por isso, me sinto honrado em poder descrever os detalhes desse dia, pois eventos como esse, não acontecem a todo instante. Vamos aos fatos!

Tarde de garoa fina nas imediações da Rua Cardeal Arco Verde. Certamente por isso, a movimentação em frente ao Carioca Club ainda era tímida naquele momento. No entanto, o show estava marcado para ter início as 18h, horário que funciona para o paulistano praticamente como uma ‘matinê’, isso se compararmos a outros eventos similares que já aconteceram nessa mesma casa. Quando o acesso foi liberado, senti certa frustração, pois imaginei por alguns instantes que o Black Pantera tocaria para quase ninguém. Aliás, o Power trio de Uberaba (MG), é a grande sensação no underground brasileiro hoje, e, com total merecimento, os caras tem se apresentado nos principais festivais do país para um número cada vez maior de pessoas.

Chegada a hora do trio mineiro iniciar sua apresentação, um público mais numeroso já estava atento em frente ao palco para conferir o que os irmãos Charles Gama (guitarra, vocal), Chaene da Gama (baixo) e Rodrigo “Pancho” Augusto mostrariam no palco. Em plena divulgação do álbum “Perpétuo” (2024), os caras mandaram ver em uma apresentação calorosa. O discurso proeminentemente antirracista, dá ao trio a relevância necessária para que cada canção seja vista e ouvida como um manifesto musical. Junto a isso, a pegada agressiva e o carisma dos caras, faz com que cada show se transforme em algo único. O destaque ficou mesmo para a obrigatória “Fogo nos Racistas”, que já é o ‘clássico’ obrigatório da banda, e sempre causa grande alvoroço quando aparece no setlist. O Black Pantera fez um ótimo trabalho e agradou muito aos que chegaram cedo para prestigia-los. Ainda darão muito o que falar!

Foto: Roberio Lima

Certas expressões como a famigerada “menos é mais”, se enchem de sentido quando nos deparamos com casos como o do Sleaford Mods, dois homens, um computador e só! O publico rapidamente preencheu quase todos os espaços do Carioca Club para conferir a única apresentação do duo Britânico no Brasil, e isso definitivamente mostrou que esse tipo de atração tem uma boa demanda por esses lados. Foi assim que Jason Williamson e Andrew Fearn sacudiram o publico, assim que pisaram no palco. Não havia nenhum instrumento, iluminação especial ou qualquer tipo de coreografia para ludibriar a audiência. Somente as batidas pré gravadas no laptop e a performance esquizofrênica de Jason Williamson junto ao parceiro Andrew Fearn que acompanha cada batida como já é de costume nas apresentações do duo. “UK Grim”, lançado em 2023, é o último trabalho de estúdio, mas musicas dos discos anteriores estiveram presentes no set.

Os estilos se misturavam amistosamente na pista do Carioca Club, e era possível ver tiozões, punks e descolados, vibrando com cada batida reproduzida pelo indispensável laptop situado em uma lateral do palco.

“Divide And Exit”, já considerado um clássico na carreira do Sleaford Mods, e que completa dez anos em 2024, figurou com algumas perolas, como a sequência de “Keep Out of It”, “You’re Brave” e “The Corgi”. Os saudosistas dos anos oitenta tiveram seu momento de glória quando uma versão de “West End Girls” do Pet Shop Boys foi apresentada. Um show improvável em todos os sentidos, inclusive quando Jason Williamson, se utiliza do Google tradutor para expressar sua insatisfação com o seu fone de ouvido que parou de funcionar no meio de uma performance.

O Sleaford Mods é recomendado para ouvintes de Prodigy, Sex Pistols e de outras vertentes do Punk e Pós punk, mas também para quem gosta música inventiva e imprevisível. O final de uma apresentação memorável se deu com “Tweet Tweet Tweet” e causou comoção geral com todos entoando o refrão, mesmo depois que os músicos já haviam deixado o palco. Não por acaso, testemunhei muitos fãs abraçando o jornalista André Barcinski, responsável pela vinda do duo Britânico ao país.

Que não demorem à voltar, pois fizeram um show intenso, incrível e improvável – com sabor de ‘quero mais’!