Fabio Lione - Teatro APCD - São Paulo/SP - 18 de maio de 2025
Por: Leo Wacken
Fotos: João Zitti (@joaozitti)
O céu de São Paulo tremeu. As nuvens se abriram. E de lá, como entidades invocadas das profundezas do oculto, surgiram Lilith, Lamia, Rusalka, Nixe e Abrahel — cinco mulheres armadas com instrumentos, fúria e presença que incendiaram o palco do Bangers Open Air 2025. A estreia em terra brasileira da banda Dogma que mistura misticismo, peso e atitude, foi um verdadeiro soco na cara da mesmice.
Ainda que o disco de estreia tenha vindo à tona só em 2023, o que se viu no Teatro APCD, em Santana, foi uma apresentação madura, afiada e ensanguentada de emoção. O set de cerca de uma hora foi o suficiente pra deixar claro que essas guerreiras vieram pra cravar sua estaca no coração do underground. Com riffs cortantes, grooves pesados e harmonias que grudam na mente feito veneno doce, a banda cativou até quem entrou no show sem saber o que esperar.
E pra quem duvidou?
Elas esmagaram expectativas. Nada soava amador. Mesmo com alguns trechos pré-programados nos refrãos, a execução era tão precisa, tão violenta e ao mesmo tempo tão bem feita que dava até pra desconfiar de playback — mas era pura competência. Era o som de quem sabe exatamente o que está fazendo. E ali, ninguém saiu ileso. Elas chegaram como tempestade — e foram embora como prenúncio do que está por vir. Se o metal tem novas sacerdotisas, elas já estão entre nós.
![]() |
Foto: João Zitti |
![]() |
Foto: João Zitti |
![]() |
Foto: João Zitti |
![]() |
Foto: João Zitti |
![]() |
Foto: João Zitti |
Mas aí, veio o momento que muitos de nós — fãs de verdade, fãs raiz, fãs que envelheceram ouvindo power metal com lágrimas nos olhos e o punho erguido — esperamos por décadas: a volta do mestre. O homem. O mito. O trovador do épico. FABIO LIONE.
O palco foi tomado por uma orquestra jovem, ensandecida e talentosa, regida por um maestro que parecia estar controlando a fúria dos elementos. Mas nada disso seria completo sem a banda base: guitarras flamejantes, baixo cortante, teclados místicos e bateria devastadora — tudo no formato clássico do power metal sinfônico. E quando o rugido inicial de “Epicus Furor” começou a ecoar, a alma do Rhapsody se ergueu do passado como um dragão acordando de seu sono milenar.
Logo em seguida veio o ataque: “Emerald Sword”. Meu irmão… o que foi aquilo? O teatro virou um campo de batalha. Cada nota, cada grito, cada bumbo era uma explosão. Aquilo não era música. Era guerra.
Lione, aos 51 anos, mostrou que o tempo só poliu ainda mais sua lâmina vocal. O cara simplesmente destruiu. Sem samplers, sem backtracks, sem truques — só peito aberto, garganta de aço e alma em chamas. Um verdadeiro veterano que ainda faz novato chorar de vergonha.
![]() |
Foto: João Zitti |
![]() |
Foto: João Zitti |
![]() |
Foto: João Zitti |
O set seguiu com hinos que marcaram uma geração — “Wisdom of the Kings”, “Eternal Glory”, “Beyond the Gates of Infinity”, “Wings of Destiny”. As lágrimas vinham. Os punhos subiam. Era uma catarse coletiva de fãs que esperaram uma vida inteira pra ouvir tudo isso ao vivo — e do jeito certo.
A execução do álbum 'Symphony of Enchanted Lands' na íntegra foi só o começo. Quando Lione sumiu do palco por alguns segundos e voltou com “In Tenebris” emendada em “Knightrider of Doom” e “Land of Immortals”, o teatro virou um inferno sagrado. Ele mandou todo mundo levantar — e ninguém mais se atreveu a sentar. Era riff atrás de riff, clássico atrás de clássico. Ali não tinha espaço pra respirar. Tinha espaço pra berrar.
O cara não só canta como um Deus — ele desce no meio do povo, olha nos olhos dos fãs e canta com eles, para eles, como um guerreiro entre soldados. Fabio Lione é mais do que um frontman — ele é o líder de uma legião. Um mago do metal que enfeitiça sem precisar de pose, só com o poder de quem vive isso há mais de 20 anos e nunca desafinou sua paixão.
A surpresa foi o cover de “We Are the Champions”, do Queen. Confesso que quebrei a cara ao pensar que não ia funcionar. Funcionou. O público gritou cada verso como se fosse um hino do próprio Rhapsody. E então, a martelada final: “Dawn of Victory”. Não tinha música melhor pra fechar. Uma ode à glória, ao suor, à história de um dos maiores vocalistas do metal ainda em seu auge.
Quando os últimos acordes ecoaram, não restava dúvida: esse foi um dos melhores shows da última década. Pra quem vive e respira heavy metal, foi mais que um show — foi redenção. Foi um ritual.
Que Lione não demore mais vinte anos pra repetir isso. O Brasil não apenas quer — exige mais shows como esse. E se o metal ainda pulsa neste mundo cada vez mais digital, foi graças a noites como essa que ele provou estar mais vivo do que nunca.
![]() |
Foto: João Zitti |
![]() |
Foto: João Zitti |
![]() |
Foto : João Zitti |
SETLIST:
Epicus Furor
Emerald Sword
Wisdom of the Kings
Heroes of the Lost Valley
Eternal Glory
Beyond the Gates of Infinity
Wings of Destiny
The Dark Tower of Abyss
Riding the Winds of Eternity
Symphony of Enchanted Lands
Set 2:
In Tenebris
Knightrider of Doom
Land of Immortals
The Wizard's Last Rhymes
Rain of a Thousand Flames
Lamento eroico
Holy Thunderforce
We Are the Champions (Queen cover)
Dawn of Victory
Agradecimento a Acesso Music pelo credenciamento e atenção
Que Review fantástica...
ResponderExcluirMuito honrado em ter feito uma das guitarras nessa tour histórica.. Valeuu 🤘🏻🔥