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Foto: João Zitti |
Dead Fish - Sesc Bom Retiro - São Paulo/SP - 18 de setembro de 2025
Por: João Zitti
Fotos: João Zitti (@joaozitti.work)
Após mais de três décadas de atuação, Dead Fish continua mais vivo do que nunca, lançando novos trabalhos de estúdio e realizando turnês nacionais e internacionais para os mais diversos públicos. Desde o Allianz Parque até as casas de shows da cena underground, a banda marca presença e leva a sua mensagem de insatisfação política para todas as gerações, sendo um dos nomes mais consolidados do hardcore nacional. Em 2025, o grupo completa 34 anos de história, e é claro que eles não deixariam isso passar batido, celebrando esse número com uma apresentação temática em São Paulo no último mês de setembro.
A apresentação aconteceu em uma quinta-feira no Sesc Bom Retiro, localizado na região dos Campos Elíseos e próximo da Sala São Paulo. O evento fez parte do que eles chamam de “Show na Praça”, que são apresentações no espaço mais aberto de convivência do local, o que faz com que, mesmo em um show com ingressos esgotados (como foi o caso), a locomoção seja fácil. Algo muito legal de se destacar é a iniciativa dessa unidade do Sesc de oferecer um serviço gratuito de transporte do público para a Estação da Luz em dias de apresentações (tanto na ida ao local quanto na volta ao metrô), o que é algo ótimo tanto pelo maior conforto quanto pela segurança, visto que andar pelas ruas de São Paulo à noite não é algo muito recomendável, especialmente dos últimos anos para cá.
A apresentação começou pontualmente às 21h (o que é outro ponto muito positivo dos shows no Sesc, que dificilmente atrasam) e teve pouco mais de uma hora de duração. Minutos antes de começar, a casa estava lotada pelo público extremamente diverso de fãs do Dead Fish, inicialmente tímido mas que, já nas primeiras notas, se transformou em uma multidão energética e vibrante. Os fãs pularam, cantaram as músicas da banda com pleno fôlego e, claro, transformaram a pista em um enorme furacão, com a presença de um mosh pit que durou praticamente o show inteiro. Mesmo com algumas guias de proteção ao redor do palco, isso não impediu que alguns stage divers se arriscassem eventualmente e pulassem para a galera, o que já era algo de se esperar e que se tornou praticamente uma obrigação nos shows do Dead Fish.
Foto: João Zitti |
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A energia esteve muito presente não só no público, mas também em cima do palco, com os quatro membros da banda entregando ótimas performances ao longo das mais de vinte músicas do seu setlist. O grande destaque, no sentido de energia, se deu realmente ao vocalista do grupo, Rodrigo Lima, que mesmo após mais de trinta anos fazendo isso, ainda possui uma disposição e um espírito extremamente jovens: ele pulou, correu de um lado pro outro, dançou, se jogou no chão, brincou de rodopiar o seu microfone no ar, entre muitas outras coisas. Inegavelmente, a sua presença de palco é um dos principais pontos que mantém a atenção e engajamento do público, auxiliado também pelo fato de ele interagir constantemente com a plateia.
Ainda que tenha sido uma apresentação em comemoração aos 34 anos de história do grupo, pouquíssimos foram os momentos em que a banda falou sobre sua trajetória, o que, ao meu ver, afeta bastante o diferencial que o show tinha de ser uma performance-aniversário. Porém, isso não quer dizer que não houveram discursos, muito pelo contrário: várias vezes Rodrigo conversou com o público e em diferentes tonalidades, tanto em um tom mais cômico (quando ele aconselhou o público a vestir seus casacos na hora de sair, pois estava muito frio), quanto em uma postura mais séria, especialmente nos momentos em que ele abordava questões políticas. Era de se esperar que a banda fosse tratar dessas temáticas, pois é algo intrínseco ao trabalho deles, e isso foi muito impulsionado justamente pelos eventos recentes na política brasileira durante aquela semana, no caso a PEC da Blindagem e as questões em torno das anistias políticas. Rodrigo aproveitou a apresentação para fazer fortes críticas em relação à política brasileira como um todo, a Câmara dos Deputados, ao capitalismo e, também, ao cansaço sistêmico que têm se perpetuado cada vez mais conforme as gerações passam. Ele, inclusive, finalizou o show com um grito pela Palestina livre, que é uma causa que ele é muito atuante no seu dia-a-dia, literalmente vestindo a camisa durante a performance.
Foto: João Zitti |
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Mesmo tendo passado mais de trinta anos desde que o Dead Fish surgiu, a sonoridade do grupo não foi afetada em nada, negativamente falando, chegando até mesmo a melhorar: ao comprar a gravação em estúdio da canção “A Urgência”, um dos maiores hinos da banda, com a execução ao vivo da faixa, é nítida a evolução musical que o grupo como um todo teve, trazendo um aprimoramento técnico muito grande, mas uma maturidade ainda maior. Muita coisa mudou no mundo desde que eles surgiram, mas também tem muita coisa que permaneceu igual, e o fato de a banda ainda estar na ativa e de suas músicas serem tão fáceis de o público se identificar só mostra o quão relevante e potente é seu trabalho, tanto como música quanto como manifesto, algo que essa apresentação só reforçou ainda mais.
Com um show energético e um setlist de peso, Dead Fish celebrou mais de três décadas de história para uma casa lotada de fãs apaixonados, mostrando que, mesmo após tanto tempo, sua mensagem é mais relevante do que nunca.
Agradecimento ao Sesc Bom Retiro pelo credenciamento.
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