Translate

17 de abril de 2019

Avantasia – Moonglow World Tour – Alemanha, 14/Abril/2019

Foto: Avantasia Facebook

Parti no domingo 14 de abril para Oberhausen, Alemanha, para o que seria meu terceiro show do Avantasia e tendo prometido para a minha namorada um dos melhores shows que ela já viu. Spoiler: ela adorou! Shows do projeto do vocalista alemão Tobias Sammet são acontecimentos. OK, já não são mais tão exclusivos quanto acreditávamos que seriam quando Andre Matos ensinou Tobias a falar “do caralho, São Paulo” na tour do disco The Scarecrow em 2008, porém ainda estão um patamar acima da maioria das bandas do estilo: cada tour acaba tendo vocalistas diferentes e que outra banda faz shows de 3 horas?

O disco da vez é Moonglow, o oitavo do projeto, que atingiu o topo das paradas de discos alemã e é o melhor desde The Scarecrow na opinião deste que vos escreve. Talvez por isso a primeira hora de show é praticamente centrada na nova bolacha, deixando os clássicos para a segunda metade do show. Os já obrigatórios Sascha Paeth (guitarras), Oliver Hartmann (guitarra), Miro Rodenberg (teclados), André Neygenfind (baixo) e Felix Bohnke (bateria) sobem ao palco com Tobias Sammet para mandar a abertura "Ghost in the Moon", épico de 9 minutos que Sammet canta sozinho no show e no disco. Sendo meu quinto show do vocalista alemão (2 com o Edguy), devo dizer que a voz de Sammet nunca esteve tão boa. É claro que as músicas antigas estão um tom mais baixas (como o mesmo falou durante o show), mas a voz durou o show inteiro, sem deslizes.

Foto: Avantasia Facebook

Showman como poucos e piadista digno de fazer pais e tios passarem vergonha, Tobias já mandou o primeiro trocadilho infame: “Oberhausen, your hausen is my hausen!”. O primeiro convidado apareceu na persona de Ronnie Atkins (Pretty Maids) cantando "Starlight", para logo em seguida emendarem a paulada "Book of Shallows". Nesta, Tobias faz as partes suas e de Hansi Kursch, enquanto Atkins assume as vozes de Jorn Lande (ex-Masterplan), além das suas próprias. É de repente que surge Adrianne Cowan (Sascha Paeth’s Masters of Ceremony), saindo do grupo de backing vocals para fazer guturais e substituir Mike Petrozza, deixando vários boquiabertos na König Pilsener Arena com mais de 5 mil pagantes.
Jorn Lande aparece em "The Raven Child", primeiro single de Moonglow e que dura quase 12 minutos. Ao apresentar a música, Tobias conta de uma reunião com a gravadora: eles queriam uma música de 3 minutos para tocar em rádio e a resposta do vocalista e compositor foi “quando foi a última vez que tocamos na rádio? Não me importa se a música tem 3, 7 ou 12 minutos, ela é o single”.
Jorn e Tobias iniciam "Lucifer", do disco Ghostlights, primeira música antiga (mas não tanto). O disco de 2016 é, para mim, o mais fraco do Avantasia, mas tem peças que funcionam muito bem ao vivo - incluindo quatro tocadas neste show. Falar bem do norueguês é chover no molhado, que dá sempre uma interpretação própria para as linhas vocais que canta – essa tendência, que Tobias já falou que gosta e sempre o surpreende a cada disco, causou alguns problemas entre Lande e o líder do Masterplan , Roland Grapow, que exige execuções ao vivo que sigam perfeitamente o disco de estúdio.
Sai Lande e entra Geoff Tate (ex-Queensrÿche). O Queensrÿche, especialmente o seu clássico Operation: Mindcrime, é uma influência gigantesca para o prog e power metal – pergunte para Rafael Bittencourt do Angra para ver. O Avantasia sempre foi a minha porta de entrada para vocalistas que ou eu nunca havia escutado, ou que nunca havia dado atenção suficiente, ou que nunca havia visto ao vivo. Eu nunca havia visto Geoff Tate ao vivo, mas já quero ver de novo: com 40 anos de carreira, o cara faz ao vivo exatamente o que faz no estúdio. Em dois duetos com Sammet, Tate cantou "Alchemy" e a bela balada "Invincible".

Foto: Gisele Oliveira

É apenas na oitava música do show que um clássico do disco de estreia The Metal Opera aparece. Oliver Hartmann, único além de Sammet a aparecer em todos os discos, dividiu as linhas que foram de Michael Kiske (Helloween) no álbum com a backing vocal Ina Morgan (que participou em vários álbuns do Avantasia, mas em corais). Sem querer puxar saco, mas o brasileiro Andre Matos (Shaman, ex-Angra) faz um trabalho melhor no ao vivo The Flying Opera (2011).
O single "Moonglow", melhor quase-pop metal de Sammet desde Lost in Space teve a volta de Cowan fazendo as vezes de Candice Night. As duas participações de Cowan me deixaram extremamente curioso sobre como soará a banda dela com Sascha Paeth.
Tobias Sammet, sempre showman, decide brincar com o público sentado nas arquibancadas, fazendo piadas e comparando com programas de auditório. Ele continua o show contando que foi muito perguntado o porquê de ter colocado a próxima música no meio de um disco e não como bônus: “porque eu posso”. Eric Martin (Mr. Big) entra e junto com Sammet repetem o dueto que fazem em estúdio na divertida "Maniac", cover de Michael Sembello. Se no disco ela fica meio fora do lugar, no show é pura diversão. É bom também ver Eric Martin se divertindo, algo que ele tem repetidamente dito sobre não sentir mais nos shows do Mr. Big após a morte do baterista Pat Torpey em 2018 e que já afirmou ser um motivo para parar com a banda após o fim da tour que farão este ano.
Desde a sua primeira tour com o Avantasia em 2014, Martin canta "Dying for na Angel", e foi exatamente o que ele fez novamente. É provável que esta seja a canção mais popular da banda na Alemanha, devido ao clipe com Klaus Meine (Scorpions). Se você está curioso de como soa, há uma versão ao vivo no disco dois de Ghostlights.

Foto: Jair Cursiol Filho

É na décima-segunda música que aparece o último convidado, Bob Catley (Magnum). Catley é constante nas turnês desde a original em 2008, mas várias vezes não sai da Europa, algo que deve se repetir nessa turnê. Ele canta "Lavender", uma das minhas favoritas da mais nova bolacha (quem já imaginou uma música de metal cujo refrão fale sobre o cheiro de lavanda!?) e "The Story Ain’t Over", belíssima música do EP Lost in Space Pt. 1 (2007).
Embora The Scarecrow (2008) tivesse na época de seu lançamento uma recepção não muito calorosa por parte dos fãs dos Metal Opera 1 e 2 por causa da grande diferença de estilo, a música título sempre foi uma favorita dos fãs, se mantendo no setlist até quando Jorn Lande não esteve em turnê. Me surpreendi um pouco com a escolha, visto que a estrutura da música é extremamente similar à de The Raven Child, mas creio que Tobias tenha também que pensar em quem está em turnê com ele para montar o setlist.

Tobias sai para descansar a voz (algo muito esperto em um show de 3 horas) e volta Eric Martin, que assume o posto de frontman pelos próximos dois duetos: "Promised Land" com Jorn e "Twisted Mind" com Geoff Tate. Nesta última, Eric agradece a Tobias por permitir um dueto com Tate, algo que ele crê que não teria acontecido nos EUA (os dois são das terras do Tio Sam). Aqui vemos Eric sendo um ótimo frontman e tentando arrumar apelidos para Jorn e Tate ao vivo. Não anotei o de Tate, gritado em gutural por Adrianne a pedido de Eric, mas Jorn virou o He-Man por causa do cabelo, com direito a “pelos poderes de Greyskull”!
Geoff apresenta a próxima música como a canção que o apresentou para o Avantasia, na época do lançamento do single: a homônima "Avantasia" recebe Tobi de volta e conta com Geoff fazendo as vezes de Michael Kiske. Que música, senhoras e senhores! Que versão!
O disco Ghostlights reaparece em duas pauladas: a épica "Let the Storm Descend Upon You", mais uma a bater acima dos dez minutos e que contou com Jorn e Atkins; e "Master of the Pendulum", onde Atkins cantou as partes de Marco Hietala (Nightwish) melhor do que eu esperava. Esta segunda é quase uma sobra do Nightwish e funciona maravilhosamente bem ao vivo.
"Shelter from the Rain" contém a única participação de Herbie Langhans (ex-Seventh Avenue) como vocalista principal, junto com Bob Catley e Ina Morgan. Não entendi exatamente a escolha, visto que a música "Draconian Love" poderia ter substituído "Master of the Pendulum" e ainda ter contado com o seu vocalista original, que é Herbie. Talvez Herbie tenha mais espaço nos shows que Bob Catley não participar?
Bob Catley ainda canta em "Mystery of a Blood Red Rose" antes de deixar o palco para que Tobias cante "Lost in Space", primeiro clipe do Avantasia e última música antes do bis. É bastante curiosa a reação do público a essa música em todos os shows que fui do Avantasia: quando Tobias anuncia parte do público fica quieto, como se tivesse vergonha das qualidades de “U2 pesado” da música, apenas para invariavelmente ser a música mais cantada do show.
Como no Brasil, na Alemanha o público já não pede mais bis, todos sabem que vai acontecer. "Farewell" conta com Adrienne novamente fazendo os vocais femininos, antes de irmos para o finale,  o medley de "Sign of the Cross" com "The Seven Angels", que contém uma apresentação da banda a lá Tobias: piadas e mais piadas, como com o baterista e companheiro de Edguy Felix Bohnke (não faz quase nada direito, a não ser tocar bateria) ou com o baixista André (inteligente, apesar de só tocar 4 cordas). O medley é exatamente como no ao vivo The Flying Opera, com Sign of the Cross quase inteira emendando com o refrão de The Seven Angels, onde todos os vocalistas retornam para cantar juntos.

Foto: Jair Cursiol Filho

O resultado é que um show do Avantasia é sempre um acontecimento, seja por Tobias, pela qualidade das músicas, ou a mera oportunidade de se ver tantos monstros vocais cantando juntos em um show de 3 horas (faça uma playlist no Spotify ou no Deezer com o setlist, vai passar das 2 horas e 30 minutos, enquanto exercícios similares com outras bantas baterão na casa de 1 hora e 10 minutos). 

Sim, há críticas: o show tem muito material de Ghostlights (2016) e nada de The Mystery of Time (2013) e Angel of Babylon (2010), além de praticamente nada de The Metal Opera Pt. 2 (2002) - Promised Land estreou originalmente no EP Lost in Space Pt. 2 (2007) e só o refrão de The Seven Angels não conta muito, mas em defesa de Sammet não há realmente muito que eu gostaria de ver ao vivo do segundo Metal Opera. Alguém até poderia reclamar de muito material de Moonglow, mas, hey, é a turnê de divulgação do disco e Lande, Catley, Martin e Tate participam da bolacha. Tem mais é que tocar mesmo.  

Como prometi para a minha namorada (que está mais no espectro do grunge e hard rock), foi um puta show, com ela tendo me dito que nunca viu um showman como Sammet. Tudo o que posso dizer é: se você ainda não comprou o ingresso para o show no Brasil, está fazendo o quê da vida? Ainda vai ter abertura do Shaman e a gente acaba sonhando com Andre Matos e Tobias Sammet cantando "Inside" juntos de novo.


Setlist (vocalistas entre parênteses):

1. Ghost in the Moon (Tobias Sammet)
2. Starlight (Tobias Sammet, Ronnie Atkins)
3. Book of Shallows (Tobias Sammet, Ronnie Atkins, Adrianne Cowan)
4. The Raven Child (Tobias Sammet, Jorn Lande)
5. Lucifer (Tobias Sammet, Jorn Lande)
6. Alchemy (Tobias Sammet, Geoff Tate)
7. Invincible (Tobias Sammet, Geoff Tate)
8. Reach Out for the Light (Tobias Sammet, Oliver Hartmann, Ina Morgan)
9. Moonglow (Tobias Sammet, Adienne Cowan)
10. Maniac – cover de Michael Sembello (Tobias Sammet, Eric Martin)
11. Dying for an Angel (Tobias Sammet, Eric Martin)
12. Lavender (Tobias Sammet, Bob Catley)
13. The Story Ain’t Over (Tobias Sammet, Bob Catley)
14. The Scarecrow (Tobias Sammet, Jorn Lande)
15. Promised Land (Eric Martin, Jorn Lande)
16. Twisted Mind (Eric Martin, Geoff Tate)
17. Avantasia (Tobias Sammet, Geoff Tate)
18. Let the Storm Descend Upon You (Tobias Sammet, Jorn Lande, Ronnie Atkins)
19. Master of the Pendulum (Tobias Sammet, Ronnie Atkins)
20. Shelter from the Rain (Bob Catley, Herbie Lanhans, Ina Morgan)
21. Mystery of a Blood Red Rose (Tobias Sammet, Bob Catley)
22. Lost in Space (Tobias Sammet)
23. Farewell (Tobias Sammet, Adrianne Cowan)
24. Sign of the Cross/The Seven Angels (todos)


Vocalistas:

Tobias Sammet
Ronnie Atkins (Pretty Maids)
Jorn Lande (ex-Masterplan)
Eric Martin (Mr. Big)
Bob Catley (Magnum)
Geoff Tate (ex- Queensrÿche)
Herbie Langhans (ex-Seventh Avenue)
Adrianne Cowan (Sascha Paeth’s Masters of Ceremony)
Ina Morgan
Oliver Hartmann (ex-At Vance)


Instrumentistas:

Sascha Paeth (guitarra – produtor Angra, Shaman, Edguy, Avantasia, Rhapsody, Epica, Kamelot)
Oliver Hartmann (guitarra – ex-At Vance)
Miro Rodenberg (teclados – orquestrador Shaman, Edguy, Avantasia, Rhapsody, Epica, Kamelot)
André Neygenfind (baixo)
Felix Bohnke (bateria - Edguy)



Por: Jair Cursiol Filho

Nenhum comentário:

Postar um comentário