Massacration - Cine Joia - São Paulo/SP - 13 de julho de 2025
Por: João Zitti
Fotos: João Zitti (@joaozitti.work)
O mês de julho estava quase se encerrando e foi marcado, dentre várias coisas, pelo Dia Mundial do Rock, ocorrido no dia 13 em homenagem a um dos eventos mais marcantes da história do gênero: o Live Aid, que contou com apresentações de artistas gigantes como Queen, David Bowie e Black Sabbath. É claro que o Brasil não deixaria a data passar batida, realizando diversos eventos temáticos ao redor do país com nomes de peso em suas participações, como foi o caso do Angra e de Frejat em São Paulo. Em outro lugar da cidade, porém, o céu se abriu, trovões soaram por todo o ambiente, e dele desceram as mais lendárias figuras da história do Metal: a banda Massacration, que tomou conta do Cine Joia para celebrar a data em uma apresentação com seus maiores clássicos.
Aos que não conhecem: Massacration (ou “A Banda da Galera”) é uma banda de metal e de comédia surgida a partir do programa de humor “Hermes e Renato”, um dos mais influentes de sua geração na MTV Brasil. O grupo é liderado por Bruno Sutter, personificado como o vocalista Detonator que, segundo as lendas, teria sido castrado para atingir as mais agudas notas musicais, mas também conta com outros membros do Hermes e Renato, como Adriano Silva, Marco Alves e Felipe Torres. Ao todo, eles possuem três discos de estúdio, que são: “Gates Of Metal Fried Chicken Of Death”, lançado em 2005 e produzido pelo João Gordo; “Good Blood Headbangers”, de 2008; e o “Metal Is My Life”, de 2024 e que tem sido, atualmente, o principal foco de trabalho do grupo.
A apresentação (realizada no dia 13 de julho - Dia Mundial do Rock) aconteceu no Cine Joia, casa de shows localizada na região próxima ao bairro da Liberdade e que já foi palco de performances de diversos artistas, como Trivium, The Damned, Rise Against e Yungblud. De um modo geral, a experiência no local foi muito boa, sendo muito fácil de se locomover no seu interior e com uma qualidade sonora ótima, além da proximidade que você consegue ter com o artista na hora da apresentação. Porém, sinto que um ponto negativo na ocasião foi a iluminação: normalmente, quando se vê fotos do lugar no Instagram, é bem marcante a iluminação geométrica de fundo do palco, mas por algum motivo ela não estava ativa durante esse show, o que fez com que a apresentação como um todo fosse muito escura, não acompanhando também a explosão energética apresentada pela banda.
O show contou com aproximadamente duas horas de duração, possuindo um grande enfoque no primeiro e no último disco da banda, o “Gates Of Metal Fried Chicken Of Death” e o “Metal Is My Life”, respectivamente. Vale lembrar que o último disco foi eleito como o Melhor Álbum Nacional de 2024 pelos leitores da Roadie Crew (algo que a banda e principalmente o Detonator fizeram bastante questão de relembrar ao longo da performance), e não é à toa: o disco é realmente muito bom, apresentando uma infinidade de referências ao imaginário popular brasileiro e ao cenário do rock (incluindo uma referência/paródia de “November Rain”), combinado a originalidade e criatividade tão características do grupo.
Foto: João Zitti |
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Pra quem já foi em um show do Massacration, não é novidade nenhuma que a apresentação é sinônimo de diversão: com o característico humor escrachado de Hermes e Renato (que moldou a comédia para toda uma geração através da MTV Brasil), o grupo explorou e se utilizou em diversos momentos do imaginário coletivo brasileiro, iniciando o show logo de cara com uma paródia do Sabadaço e da banda Kasino, o que serviu para já determinar o tom do resto da noite.
As execuções das músicas, de um modo geral, foram muito intervaladas justamente por momentos de humor e sketches, servindo como uma maneira de contextualizar e contar uma história por trás dessas canções: desde o caso de amor entre o touro e o toureiro em “Revenge Of The Bull” até o momento em que Detonator descobre que foi corno pelo Kid Bengala no Casarão Augusta em “The Bull” (sim, é muita informação em uma história só), a banda se utilizou desse recurso de maneira perfeita, evitando que virasse um stand-up, mas fugindo do padrão convencional de música atrás de música (às vezes quebrados pelos artistas ao fazerem inserções de histórias pessoais entre as faixas). Não só deu muito certo, como o público também entrou de cabeça na brincadeira, até engajando na pseudo-treta entre o grupo e o Angra, que, de acordo com o Detonator, teria ficado com muito rancor pelo segundo lugar na premiação da Roadie Crew e, de propósito, teria marcado uma apresentação no mesmo dia e gratuita só para desestabilizar o grupo, o que não deu certo. Lógico, tudo isso não passa de uma brincadeira e ambas as bandas são amigas na vida real, mas que timing impressionante das apresentações terem acontecido no mesmo dia.
Foto: João Zitti |
Foto: João Zitti |
Foto: João Zitti |
Apesar de tudo isso, engana-se quem acha que não há seriedade e comprometimento nas performances, muito pelo contrário: tanto nos trabalhos de estúdio quanto na apresentação ao vivo, é nítido o grande domínio técnico da maior parte dos músicos ao executar as canções (que possuem um relativo grau de dificuldade, diga-se de passagem), fazendo jus ao lema de que, para quebrar a regra, você precisa dominá-la primeiro. No caso de Bruno Sutter, por exemplo: é nítido que há um exagero nos vocais para parodiar, justamente, o uso excessivo de agudos e falsetes por algumas bandas, mas ele é um artista que canta (e muito!) na sua carreira solo. Não à toa ele possui diversos outros projetos paralelos, como a série de shows em homenagem ao Dream Theater e a turnê-tributo “Bruno Sutter Executa Iron Maiden”. Caso você queira ver isso na prática, é só assistir o episódio em que ele participou do “Amplifica”, podcast do guitarrista Rafael Bittencourt. A banda, inclusive, fez questão de mostrar que sabe muito bem o que está fazendo ao executar um cover-surpresa de “Painkiller”, do Judas Priest, que pegou todo mundo de surpresa (inclusive eu) e que serviu pra passar o recado pra quem ainda tinha dúvidas das habilidades dos músicos.
Além da apresentação, outro ponto que achei muito positivo na noite foi a maneira como foi feito o meet&greet com o artista. É fato que cada vez mais tem existido uma cultura desse tipo de interação, normalmente sendo realizado com a cobrança a parte ou em um pacote VIP, com alguns deles podendo ter valores não tão agradáveis. Nesse show, a dinâmica foi outra: quem comprasse uma camisa+1 CD ou somente um LP da banda ganhava direito a um meet&greet com o Detonator, o que foi algo não só muito mais acessível, mas também muito mais franco, pois, afinal, o encontro veio como um brinde, e a chance de as pessoas comprarem aqueles produtos por si só já era bem alta. E mesmo no encontro a máscara do Detonator prevaleceu, entregando aos fãs um verdadeiro encontro com um dos deuses do metal e que, certamente, animou ainda mais a noite de domingo de todos os presentes.
Com muito bom humor e um repertório excelente, Massacration honrou o seu nome no Dia Mundial do Rock ao entregar um show energético e metalinguístico para um Cine Joia lotado. O grupo comentou no final da apresentação que, em 2026, irá voltar a São Paulo em uma turnê comemorativa dos mais de 20 anos do seu disco de estreia, e tenho certeza que o público paulistano mal vê a hora de prestigiar a apresentação da banda no ano que vem.
SETLIST:
01. Macetation Apocalypse
02. Metal Milkshake
03. The Mummy
04. November Gay
05. The Bull
06. March of Headbenze
07. Revenge of the Bull
08. Metal Is My Life
09. Flight of the Chicken
10. Metal Milf
11. Anal Weapon War
12. Metal Is The Law
13. Evil Papagali
14. Metal Massacre Attack (Aruê aruô)
15. Metal Bucetation
Agradecimento a Seven Music pelo credenciamento e atenção
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